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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/322643794 Soberania Alimentar (SOBAL) e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) na América Latina e Caribe Book · January 2016 CITATIONS 2 READS 4,800 2 authors: Julian Perez-Cassarino Universidade Federal da Fronteira Sul 48 PUBLICATIONS 295 CITATIONS SEE PROFILE Islândia Bezerra Universidade Federal de Alagoas 34 PUBLICATIONS 97 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Julian Perez-Cassarino on 22 January 2018. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/322643794_Soberania_Alimentar_SOBAL_e_Seguranca_Alimentar_e_Nutricional_SAN_na_America_Latina_e_Caribe?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/322643794_Soberania_Alimentar_SOBAL_e_Seguranca_Alimentar_e_Nutricional_SAN_na_America_Latina_e_Caribe?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Julian-Perez-Cassarino?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Julian-Perez-Cassarino?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_Federal_da_Fronteira_Sul?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Julian-Perez-Cassarino?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Islandia-Bezerra-2?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Islandia-Bezerra-2?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_Federal_de_Alagoas?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Islandia-Bezerra-2?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Julian-Perez-Cassarino?enrichId=rgreq-a1077aa19ef776556af28e06723338b5-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMjY0Mzc5NDtBUzo1ODU2NzYwMjYyOTAxNzdAMTUxNjY0NzQ1NDgxMw%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 1 27/10/2015 16:04:08 Reitor Zaki Akel Sobrinho Vice-Reitor Rogério Andrade Mulinari Pró-Reitora de Extensão e Cultura Deise Cristina de Lima Picanço Diretora da Editora UFPR Suzete de Paula Bornatto Vice-Diretor da Editora UFPR Allan Valenza da Silveira Conselho Editorial Allan Valenza da Silveira Edson Luiz Almeida Tizzot Everton Passos Ida Chapaval Pimentel Lauro Brito de Almeida Marcia Santos de Menezes Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt Sérgio Luiz Meister Berleze Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 2 27/10/2015 16:04:09 Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 3 27/10/2015 16:04:09 © Islandia Bezerra e Julian Perez-Cassarino (Orgs.) Coordenação editorial Rachel Cristina Pavim Revisão Kairós Projeto gráfico, capa e editoração eletrônica Rachel Cristina Pavim Coleção Semeando Novos Rumos Coleción Sembrando Nuevos Senderos Série Pesquisa, Universidade Federal do Paraná. Sistema de Bibliotecas. Biblioteca Central. Coordenação de Processos Técnicos. ISBN Ref. Direitos desta edição reservados à Editora UFPR Rua João Negrão, 280, 2O andar - Centro Tel.: (41) 3360-7489 / Fax: (41) 3360-7486 80010-200 - Curitiba - Paraná - Brasil www.editora.ufpr.br editora@ufpr.br 2015 Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 4 27/10/2015 16:04:09 ‘Semeando novoS RumoS’ ‘SembRando nuevoS SendeRoS’ A presente coleção, publicada pela Editora da UFPR, composta por mais de uma dezena de títulos, é o resultado de um esforço coletivo da Rede Internacional Casla/ Cepial ‘Semeando Novos Rumos’ / ‘Sembrando Nuevos Senderos’ inspirada no III Con- gresso de Cultura e Educação para a Integração da América Latina (III CEPIAL), realizado em julho de 2012 na cidade de Curitiba, Paraná, Brasil, sob a coorde- nação geral da Casa Latino-americana (CASLA – www.casla.com.br ), associação educacional e sociopolítica que implementa ações no âmbito dos direitos huma- nos e coletivos, desde 1985. A Rede Internacional Casla-Cepial ‘Semeando Novos Rumos’ / ‘Sembrando Nue- vos Senderos’, formada por organizações populares e movimentos sociais, insti- tuições acadêmicas e outras instâncias do poder público, no âmbito de América Latina e Caribe – mas aberta também a outras regiões e continentes –, busca fortalecer o diálogo e as ações conjuntas que visem o apoio ao desenvolvimen- to sustentável e à ampliação da participação democrática e da preservação dos direitos coletivos de sociedades e povos que vivem em situações de vulnerabili- dade social. As ações promovidas pela Rede Internacional Casla/Cepial ‘Semeando Novos Rumos’ / ‘Sembrando Nuevos Senderos’ se inscrevem no atual momento de transi- ção das sociedades latino-americanas que buscam afirmar-se pela procura de um caminho próprio, original, autêntico e construído a partir de suas próprias raízes autóctones, mas sempre em diálogo com os próprios protagonistas de sua diversidade social, política, cultural e socioambiental. A Rede intenta criar no- vas condições de ampliação dos espaços democráticos, não apenas nos espaços instituídos formalmente, mas principalmente nos novos territórios moleculares, capazes de fazer emergir o que sempre foi silenciado e marginalizado por não Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 5 27/10/2015 16:04:09 fazer parte dos processos de poder hegemônico do mercado e dos projetos de cultura impostos pela lógica da produção capitalista. Assim sendo, e ao operar de maneira diferente dos caminhos habituais, é que a rede busca reafirmar novas semeaduras a fim de gerar outras sendas e rumos para pensar, viver e tentar reafirmar as diferenças e o que o pensamento, o poder e a ideologia dominantes tendem a desautorizar e a negar. A diversidade é o princípio da vida e da sua criatividade cultural, a exemplo da biodiversidade que imprime à natureza o seu princípio de ser. Este projeto editorial é fruto de uma colaboração coletiva, sem a qual não se alcançariam os resultados produzidos e nem teria sentido se assim não o fosse, pois ele é a expressão de vontades e intencionalidades de múltiplos e diversos coletivos, de representantes de organizações e movimentos sociais, de pesqui- sadores e educadores, de setores da administração pública que buscam traduzir as resistências e os anseios democráticos populares para fazer-seouvir, fazer-se respeitar e que têm propostas alternativas diante das cruciais e dramáticas si- tuações que a modernidade impôs para o desenvolvimento das sociedades, sa- crificando os direitos da natureza, dos coletivos e de suas culturas que procuram um ser e um fazer próprios à sua maneira de seu (bem) viver. Agradecimentos se fazem necessários aos mais de cem autores da cole- ção, dos mais diversos países latino-americanos, aos seus organizadores acadê- micos, professores e pesquisadores Dr. Dimas Floriani e Dr. Nicolas Floriani, ao Conselho Editorial, ao Diretor, à Vice-Diretora, à Secretária, revisores da Editora da Universidade Federal do Paraná e aos seus avaliadores externos que zelaram pela qualidade da presente coleção. Para esta edição, agradecemos particularmente o apoio do Ministério de Desenvolvimento Agrário, via Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD) que, reconhecendo a importância da temática desta obra, se pro- pôs a colaborar para sua viabilização. Dra. Gladys Renée de Souza Sánchez – Presidente da Casa Latino-americana (CASLA) e Coordenadora Geral da Rede Internacional Casla-Cepial ‘Semeando Novos Rumos’ / ‘Sembrando Nuevos Senderos’ Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 6 27/10/2015 16:04:09 SumáRio LiSta de abReviaçõeS e SigLaS / 9 PRóLogo ¡ComeR o moRiR! gLobaLizaCión, CamPeSinado y SobeRanía aLimentaRia / 13 Víctor M. Toledo intRodução / intRoduCión / 21 PaRte i A SeguRança aLimentaR e nutRiCionaL no BRaSiL: daS ConCePçõeS noRteadoRaS ao iníCio doS PRoCeSSoS de ConSoLidação / 31 Silvia do Amaral Rigon Cláudia Maria Bógus haCia una RedefiniCión de La SobeRanía agRaRia: ¿eS PoSibLe La SobeRanía aLimentaRia Sin Cambio CiviLizatoRio y bioSeguRidad? / 55 Jaime Breilh diReito Humano à aLimentação e nutRição adequadaS / 69 Flávio Valente Juan Carlos Morales González Thais Franceschini Valéria Burity agRoeCoLogía y SobeRanía aLimentaRia en améRiCa Latina / 93 Miguel A. Altieri Clara Ines Nicholls PaRte ii SobeRanía aLimentaRia, agRoeCoLogía y ReCamPeSinizaCión / 111 María Elena Martínez-Torres Peter M. Rosset un ajuSte de difeRenCiaS o SobRe una dietétiCa nativa guaRaní / 135 Rubia Carla Formighieri Giordani novaS teCnoLogiaS, CoRPoRaçõeS e SeuS imPaCtoS SobRe a SobeRania aLimentaR / 153 Maria José Guazzelli Silvia Ribeiro Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 7 27/10/2015 16:04:09 SobeRanía y SeguRidad aLimentaRia y nutRiCionaL (SSan): na miRada a LaS aCCioneS y PoLítiCaS PubLiCaS en eL bRaSiL y eL méxiCo RuRaL / 179 Islandia Bezerra Tim Trench SobeRanía aLimentaRia en Cuba / 205 Mavis Dora Álvarez Licea a PRomoção da SobeRania e SeguRança aLimentaR e nutRiCionaL (SSan) PoR meio do meRCado inStituCionaL: a exPeRiênCia bRaSiLeiRa / 223 Julian Perez-Cassarino André Michelato Rozane Triches Silvio Porto PoSfáCio SobeRania aLimentaR no Continente daS deSiguaLdadeS / 247 Renato Maluf SobRe oS autoReS e aS autoRaS / SobRe LoS autoReS y LaS autoRaS / 255 Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 8 27/10/2015 16:04:09 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 9 LiSta de abReviaçõeS e SigLaS ADR - Agencias de Desarrollo Rural AE – Alimentação Escolar ALADI - Associação Latino-Americana de Integração ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAISAN – Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional CERESAN – Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional CCS - Cooperativas de Créditos y Servicios CDB - Convênio sobre Diversidade Biológica CDS - Compra com Doação Simultânea CEASA - Centrais de Abastecimento do Paraná S.A CELAC - Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos CEPAL - Comisión Económica para América Latina y el Caribe CME - Campanha da Merenda Escolar CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNSAN - Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento CONSEA - Conselho Nacional de Segurança Alimentar COPROFAM - Confederación de Organizaciones de Productores Familiares del Mercosur CPA - Cooperativas de Producción Agropecuaria DESC - Direitos Econômicos, Sociais e Culturais DhAA - Direito humano à Alimentação Adequada EFZ – Estratégia Fome Zero EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ENT - Enfermedades No Transmisibles FAO - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 9 27/10/2015 16:04:09 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)10 FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FINEP – Inovação e Pesquisa FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação GENT - Granjas Estatales de Nuevo Tipo GFN - Global Ecological Footprint Network IALCSF - Iniciativa América Latina e Caribe Sem Fome IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INAN - Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição INEGI - Instituto Nacional de Estadística y Geografía IPCL - Incentivo à Produção e Consumo do Leite IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada LNNA - Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio LOSAN - Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional LVC – La Via Campesina MAPA - Ministério da Agricultrura, Pecuária e Abastecimento MCTI - Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MEC – Ministério da Educação MESA - Ministério Extraordinário da Segurança Alimentar MS – Ministério da Saúde OGM – Organismo Geneticamente Modificado OMS - Organização Mundial de Saúde ONU - Organização das Nações Unidas OSACTT - Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico, Técnico e Tecnológico PAA - Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar PT - Partido dos Trabalhadores PBF – Programa Bolsa Família PCC - Partido Comunista de Cuba PDE - Programa de Desayuno Escolar PEA - Población Económicamente Activa PEC - Programa Especial Concurrente para el Desarrollo Rural Sustentable PEC – Proposta de Emenda Constitucional PESA - Programa Especial para la Seguridad Alimentaria/Proyecto Estratégico de Seguridad Alimentaria PFZ - Programa Fome Zero Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 10 27/10/2015 16:04:09 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 11 PIB - Produto Interno Bruto PIDCP - Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos PIDESC - Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais PL – Projeto de Lei PMA - Programa Mundial de Alimentos PNAE - Política Nacional de Alimentação Escolar PNSAN – Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAN - Programa Nacional de Alimentação e Nutrição REDE AGRONANO - Rede de Nanotecnologia aplicada ao Agronegócio REAF- Mercosul - Reunión Especializada de Agricultura Familiar del MERCOSUR SAGARPA - Secretaría de Agricultura, Ganadería, Desarrollo Rural, Pesca y Alimentación SAN - Segurança Alimentar e Nutricional SELA - Sistema Econômico Latino-Americano SISAN - Sistema Nacional de Seguridad Alimentaria y Nutricional SOBAL – Soberania Alimentar SSAN – Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional TLC - Tratado de Libre Comercio UBPC - Uniones Básicas de Producción Cooperativa UNASUL – União das Nações Sul-Americanas ZIMSOFF - Foro de los Pequeños Agricultores Orgánicos de Zimbabwe ZNBF - Zero Budget Natural Farming/ Agricultura Natural de Presupuesto Cero Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 11 27/10/2015 16:04:09 Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 12 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 13 PRóLogo ¡ComeR o moRiR! gLobaLizaCión,CamPeSinado y SobeRanía aLimentaRia Víctor M. Toledo intRoduCCión La alimentación, accesible, sana y suficiente, es uno de los derechos humanos y sociales más violados y violentados del mundo contemporáneo, a tal punto que la producción, circulación y consumo de alimentos se ha convertido en un intrincado nudo inducido por múltiples dimensiones y factores. Por ello, no resulta fácil abordar el tema más aún cuando lo alimentario se examina en una época en la que la supervivencia de los seres humanos, de la vida entera y del planeta, es el reto supremo. El libro que el lector abre, es un intento serio por analizar de manera completa el fenómeno, vital y social, de la alimentación humana. El solo hecho de que participen 25 investigadores de siete países provenientes de campos del conocimiento tan dispares como la nutrición, la medicina, la agronomía, la ingeniería de alimentos, la antro- pología, la psicología y la abogacía, es ya una garantía. Se trata además de un colectivo de autores que abordan el tema desde el pensamiento crítico o si se prefiere desde el nuevo enfoque de las ciencias de la complejidad. En sintonía con los capítulos del libro, que se inicia con tres excelentes abordajes con- ceptuales, históricos, jurídicos, procedo a señalar brevemente seis contextos que brotan de la lectura de la obra. Estos contextos a mi juicio enmarcan la discusión y el debate sobre la soberanía alimentaria y nutricional. Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 13 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)14 eL HambRe eS un genoCidio SiLenCioSo De acuerdo con los organismos internacionales, en el mundo existen en- tre 925 millones (Programa Mundial de Alimentos, 2011) y 1040 millones de per- sonas (FAO, 2012), que padecen hambre. En los tiempos de la innovación tecno- lógica, las fiestas de la investigación científica, y la expansión de los mercados, el hambre en el mundo existe y continúa agravándose. Ello ha sido a causa del alza en el precio de los alimentos, la especulación financiera, el desperdicio, la mo- nopolización del comercio de granos, y la desviación de enormes volúmenes de cereales para alimentar a las dos grandes deidades de la civilización moderna: las reses y los autos. Pero si uno de cada siete miembros de la especie sufre hambre ello se debe fundamentalmente a la estructura, inmoral, irracional y absurda, del mundo actual. Los verdaderos autores de esta tragedia son las oligarquías mul- tinacionales y sus miles de mercenarios enclavados en gobiernos y empresas. El hambre es en el fondo un genocidio silencioso. Por ejemplo, los precios de los principales alimentos se fijan en la Bolsa de Materias Primas Agrícolas de Chicago (Chicago Commodity Stock Exchange). Seis empresas multinacionales del sector agroalimentario y de las finanzas con- trolan esa bolsa. Los precios fijados diariamente son casi siempre fruto de com- plicadas especulaciones en torno a contratos a plazos, pirámides de derivados y otras variables. El comercio mundial de granos es a su vez un monopolio bajo el control de una docena de corporaciones. Si se parte de la premisa anterior, el hambre se erradica de inmediato cuando se atacan sus causas estructurales, me- diante actos elementales de justicia global. La ONU, por ejemplo, debería exigir a los países la implantación de impuestos especiales para salvar a los miembros más marginados de la especie humana que graven las ganancias del 1% más rico. El 0.5 por ciento de los 40 mil millones de euros evadidos anualmente a los pa- raísos fiscales por la delincuencia financiera globalizada, bastaría para paliar el hambre en su totalidad. Otras regulaciones obligarían a los productores a ge- nerar alimentos para los humanos antes que para las reses o para combustibles para autos. La clave está en terminar con el dogma del libre mercado, el mismo que ha permitido una descomunal concentración de riquezas. El hambre se ha convertido además en un nuevo affaire por medio del cual las elites que controlan al mundo logran montar nuevos espectáculos para aminorar sus telúricas culpas, al mismo tiempo que permiten expandir los ne- gocios y aumentar las ganancias o los votos. hoy los poderes fácticos generan Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 14 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 15 plataformas para crear la ilusión de que se puede eliminar (siempre gradual- mente) el hambre. Todo por la vía de un capitalismo redentor y humanitario; es decir, que convierte el tema del hambre en negocio. En este nuevo festín parti- cipan casi todos: organismos internacionales, corporaciones monopólicas de ali- mentos, agrícolas, biotecnológicas y comerciales, gobiernos de derecha, centro e izquierda, iglesias, instituciones de investigación científica, medios masivos de comunicación. Los espectáculos se difunden y reproducen a escala global. Carlos Slim y Bill Gates son fotografiados, video grabados, televisados y entrevistados en el mo- mento en que donan al Centro Internacional de Mejoramiento de Maíz y Trigo 25 millones de dólares. Sus diminutas limosnas dejan al desnudo su estatura moral. De acuerdo con Bloomberg, por ejemplo, Slim obtuvo ganancias sólo en 2012 por 15.6 mil millones de dólares (más de mil millones de dólares al mes). En el mismo tono aparecen la campaña para erradicar el hambre en África o la nueva estrategia de los nueve demonios del apocalipsis agroalimentario (Monsanto, Syngenta, Du- Pont, Arysta Life Science, Bayer, FMC, Dow AgroSciences, BASF y Sumitono Chemi- cal) agrupados en el consorcio Crop Science. Bajo su nuevo maquillaje, estas nueve corporaciones pregonan la defensa del ambiente, la sustentabilidad y la erradica- ción del hambre. Mientras tanto, sólo en 2012, Monsanto facturó 14,000 millones de dólares y tuvo ganancias por unos 2,600 millones de dólares. ¿agRoinduStRiaLidad o agRoeCoLogía? Es decir por los intereses del capital corporativo y global. Para el caso de la producción alimentaria, las acciones impulsadas desde el Neoliberalismo responden a una ideología basada en los agro-negocios y en la tecnología del modelo agroindustrial. Estos impulsan el uso de maquinaria, agroquímicos (pes- ticidas y fertilizantes), nuevas variedades genéticas, cultivos transgénicos, sobre medianas y grandes propiedades y encadenados a los monopolios comerciales. Desde hace más de dos décadas, muchos autores hemos estado pregonan- do que existe otra alternativa de modernización del campo, basada en los princi- pios de una corriente de pensamiento, de investigación científica y tecnológica, y de acción social, llamada agroecología. Como muchas otras nuevas disciplinas, la agroecología ha ido construyendo un cuerpo teórico y práctico, que resulta Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 15 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)16 de la crítica al modelo agroindustrial, con resultados notables en Latinoamérica, Europa y muchos países como India. La agroecología sostiene que el modelo agroindustrial es una forma per- versa de producir alimentos y otros bienes por seis simples, pero patéticas, ra- zones. Primero porque genera severos impactos al ambiente; no sólo contamina aire, suelos, aguas profundas, ríos, lagos y mares al esparcir todo tipo de agro- químicos, sino que afecta poblaciones de innumerables grupos de animales y plantas. También genera deforestación de amplias superficies, reduce la varia- bilidad genética de los cultivares, lo cual disminuye la resistencia ante posibles plagas y enfermedades, y utiliza enormes cantidades de energía provenientes de los combustibles fósiles, por lo que se la ha llamado petro-agricultura. La tercera razón atañe a los alimentos que consumimos. Mientras que los de origen vegetal vienen cargados de venenos (pesticidas) y a pesar de su atractiva apariencia son deficientes en sus contenidosnutricionales, los de origen animal provienen de gigantescas granjas donde conviven cientos o miles de animales, mantenidos a su vez con alimentos industrializados, además de hormonas, antibióticos y otras substancias tóxicas que ingerimos al comer. La cuarta está ligada con los culti- vos transgénicos o genéticamente modificados, por sus potenciales riesgos de contaminación genética y los efectos sobre la salud de quienes los consumen, un hecho cada vez más documentado por patólogos y genetistas. La quinta ra- zón, delineada en los últimos años, es el efecto de la agricultura industrializada sobre el balance ecológico del planeta. hoy se estima que entre el 25 y 30% de los gases que producen el efecto invernadero, es decir el calentamiento global, proceden del complejo agroindustrial: producción, transporte y transformación de alimentos. El último impacto es de carácter socio-cultural y adquiere la forma de etnocidio: el modelo agroindustrial requiere de grandes propiedades para ser rentable y ello supone la expulsión de miles de pequeños productores tradicio- nales o campesinos por la vía legal (contra-reformas agrarias) o ilegal (diferentes formas de violencia). La imPoRtanCia aLimentaRia de La Pequeña PRoduCCión CamPeSina En el cada vez más álgido debate sobre los modelos de producción de ali- mentos, han surgido nuevas evidencias que ponen en duda la opción agroindus- trial. En efecto, estudios recientes realizados por la FAO han mostrado que son Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 16 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 17 los pequeños productores de carácter familiar, ensamblados o no en comuni- dades tradicionales, los que generan la mayor parte de los alimentos para una población de 7 mil millones. Ello llevó a la FAO a declarar 2014 el Año de la Agri- cultura Familiar. La creencia dominante era que los alimentos, procedían mayo- ritariamente de la agricultura industrializada y basada en máquinas, agroquími- cos, petróleo y un modelo de especialización productiva que reduce o elimina la diversidad biológica y genética. Los datos reportados contradicen esa creencia, confirmando la veracidad de estudios científicos que revelaban la mayor eficacia ecológica y económica de la pequeña producción familiar y/o campesina por sobre las grandes y gigantescas empresas agrícolas. Al descubrimiento de las investigaciones de la FAO, se viene a sumar un estudio realizado por la organización civil Grain que ajusta las cifras en función de la propiedad de la tierra. El estudio de Grain es contundente: los pequeños agricultores del mundo producen la mayor parte de los alimentos que se con- sumen con solamente 25 por ciento de la tierra y en parcelas de 2.2 hectáreas en promedio. Las otras tres terceras partes del recurso tierra están en manos de 8 por ciento de los productores: medianos, grandes y gigantescos propie- tarios como hacendados, latifundistas, empresas, corporaciones… que por lo común son los que adoptan el modelo agroindustrial. Por todo lo anterior el tema de la soberanía alimentaria se conecta de inmediato con el tema cam- pesino y agrario y con la necesidad, habitualmente olvidada, de las reformas agrarias, un asunto pendiente que aún en los países con gobiernos progresistas no se atreven a abordar (Brasil, Argentina o Chile). En América Latina esta di- mensión adquiere una especial importancia dadas las características sociales y culturales de sus zonas rurales. En la región habitan unos 65 millones de campesinos, de los cuales entre 40 y 55 millones pertenecen a alguna cultura indígena, hablantes de más de 1,000 lenguas. ComeR en eL 2050: eL Reto futuRo Ya es prácticamente imposible abordar cualquier tema esencial del pre- sente sin visualizarlo y proyectarlo hacia el futuro. Pero no hacia el futuro remo- to o distante, sino al futuro próximo, ese que se dibuja con base a los principales indicadores del mundo de hoy. Para que el lector se dé una idea: en 2050 la pobla- ción alcanzará más de 9 mil millones de seres humanos, que vivirán un escenario Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 17 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)18 energético límite, ¡con muy poco o nada de petróleo! y toda una gama de fenó- menos extremos provocados por el cambio climático. Energía, agua, seguridad y empleo, y sobretodo los alimentos, serán bienes extremadamente escasos. En este panorama el factor más preocupante es por supuesto el cambio climático, que hasta ahora no ha sido enfrentado tras dos décadas de fracasos, de reuniones dominadas por la demagogia, la corrupción o el cinismo, en que ni gobiernos, ni empresas, ni organizaciones internacionales han logrado frenarlo. La crisis de civilización se ha convertido ya en una crisis por la supervivencia de la especie, el planeta y la vida misma. En el escenario futuro, el tema alimentario juega un papel esencial, porque se conecta con el incremento de la población, y actúa como causa (los sistemas agroindustriales de producción de alimentos) y recibe los efectos del cambio climático. 2050 está a la vuelta de la esquina. La SobeRanía aLimentaRia Como gLobaLizaCión ContRa-HegemóniCa Si estamos inmersos en una crisis de civilización, tesis formulada desde hace dos décadas y hoy casi unánimemente aceptada, las vías para superarla no pueden venir sino de posiciones críticas inéditas, construidas desde nuevas epis- temologías, y que conllevan una praxis política totalmente diferente a la asumi- da por los movimientos de vanguardia, incluyendo los más avanzados. En efecto, la humanidad se enfrenta a una crisis múlti-dimensional de entre las cuales la crisis ecológica, representada por el calentamiento global y su conjunto de se- cuelas climáticas, es sin duda la más amenazante y peligrosa, y por lo tanto la que requeriría de la mayor atención. La producción suficiente de alimentos sanos y accesibles es uno de los es- labones más débiles, porque de ello depende no sólo la salud sino la superviven- cia de la especie humana. Esta amenaza, que pone en entredicho todo el anda- miaje de la civilización industrial, requiere re-pensar los principales postulados y valores del mundo actual, pero centralmente cuatro, para: (i) saber co-existir con la naturaleza y sus procesos en todas las escalas; (ii) vivir sin petróleo y los otros combustibles fósiles (que son la causa principal del desbalance climático); (iii) construir el poder social como contrapeso al poder político y al poder econó- mico (lo cual supone entre otra cosas decirle adiós a los partidos políticos, a los bancos y a las gigantescas corporaciones) y, en íntima aleación con lo anterior, Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 18 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 19 (iv) salir del capitalismo. Estos cuatro objetivos se hallan ineludiblemente conec- tados y están recíprocamente condicionados. La construcción de una modernidad alternativa ya ha comenzado. Frente a la aparente robustez del establishment existen fisuras, islas, burbujas, tenden- cias a contra-corriente que crecen sigilosamente por todo el mundo al ritmo en que la crisis de civilización se hace más presente. Boaventura de Sousa Santos le ha llamado la globalización contrahegemónica. La soberanía alimentaria y nutricio- nal debe ser uno de los caminos que busquen la emancipación social y ambiental aquí y ahora. El conjunto de ensayos que integran este libro parecen situarse en esta perspectiva. Su contribución será ampliamente reconocida en los círculos académicos de la región y especialmente será un libro guía para los jóvenes pro- fesionistas dedicados al tema. Pero también habrán de nutrir de argumentos, tesis, valores y dimensiones a los movimientos sociales y a las políticas públicas de muchos gobiernos latinoamericanos. RefeRenCiaSALTIERI, M. Y; V.M. TOLEDO. The agroecological revolution in Latinamerica. Journal of Peasant Studies. 38: 587-612. (versión en Español en: www.socla.org). 2011. DE SOUSA SANTOS, B. Refundación del estado en América Latina: Perspectivas desde una episte- mología del sur. México: Siglo XXI Editores. 2010. ELLIS, F. Peasant Economics’ farm households and agrarian development. Cambridge: Universily Press, 1988. hOLT-GIMÉNEZ, E. Campesino a campesino: Voces de Latinoamérica Movimiento Campesino para la Agricultura Sustentable. 2008. SIMAS. http://www.simas.org.ni/files/cidoc/CaC-mov%20centroamerica.pdf NETTING, R. McC. Smallholders, householders: farm families and the Ecology of intensive, sustainable Agriculture. 1992. ROSSET P. Y M. BENJAMIN, The Greening of Revolution: Cuba´s experiment with organic agricul- ture. Ocean Press, 1994. 84 p. ROSSET, P. On the benefits of Small Farms. Food First Backgrounder, v. 6, n. 4, p. 1-4.1999. ROSSET, P. Small is bountiful. The Ecologist, n. 29, p. 452-456. 1999b. TOLEDO, V. M. La paz en Chiapas: ecología, luchas indígenas y modernidad alternativa. México: UNAM y Ediciones Quinto Sol. 2000. Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 19 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)20 TOLEDO, V.M. Agroecología, sustentabilidad y reforma agraria: la superioridad de la pequeña producción familiar. Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.2, abr./jun. 2002. TOLEDO, V.M. & N. BARRERA-BASSOLS. La Memoria Biocultural: la importancia ecológica de los saberes tradicionales. Icaria Editorial. Barcelona, 2008. TOLEDO, V.M. Latinoamérica como laboratorio socio-ambiental: pueblos indígenas, memoria bio- cultural y cambio civilizatorio. En M.L. Eschenhagen (ed.). Universidad Pontificia Bolivariana y Universidad de Rosario. Bogotá, Colombia, 2013. Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 20 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 21 intRodução intRoduCión “Quais são as causas ocultas desta verdadeira conspiração de silêncio em torno da fome? (…) Ao lado dos preconceitos morais, os interesses econômicos das minorias dominantes também trabalharam para escamotear o fenômeno da fome do panorama espiritual moderno. É que ao imperialismo econômico e ao comércio internacional a serviço deste interessava que a produção, a distribuição e o consumo dos produtos alimentares continuassem a se processar indefinidamente como fenômenos exclusivamente econômicos – dirigidos e estimulados dentro dos seus interesses econômicos – e não como fatos intimamente ligados aos interesses da saúde pública. E a dura verdade é que as mais das vezes esses interesses eram antagônicos.” Josué de Castro (Geografia da Fome – prefácio à primeira edição) É com satisfação singular que trazemos às suas mãos o livro Soberania Alimentar (SOBAL) e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) na América Latina e Cari- be. Este, por sua vez, congrega, descreve e analisa (teórica e empiricamente) os marcos e as definições, bem como as práticas e experiências de diferentes países latino-americanos. Os autores e as autoras que aqui colaboraram para esta obra são profes- sore(a)s, pesquisadore(a)s, militantes comprometido(a)s com a formação críti- ca e política, e, sobretudo, com a partilha do conhecimento sobre os temas que abarcam a Soberania Alimentar e a Segurança Alimentar e Nutricional no con- tinente latino-americano e caribenho. Desse modo, é importante ressaltar que cada capítulo versa sobre apontamentos (e (ou) aprofundamentos) que não têm a pretensão de exaurir o debate, mas sim, contribuir para a construção teórica e prática destes conceitos. O debate em torno da questão agroalimentar tem ganhado cada vez mais espaço na sociedade; sua abordagem possui cunho interdisciplinar e interseto- rial. Daí porque, torna-se impossível compreender, explicar e propor qualquer iniciativa neste campo, pensando a partir de tão somente uma ou duas áreas do conhecimento ou espaços institucionais da esfera governamental e não gover- namental. Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 21 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)22 Doenças relacionadas à má alimentação como fome e desnutrição, sobre- peso e obesidade (e suas comorbidades), bem como as epidemias de novas doenças associadas à alimentação (como o “mal da vaca louca”, gripes aviária e suína etc.). Ou ainda os impactos ambientais da produção agrícola e pecuária (solos, água, ar, destruição de ecossistemas, mudanças climáticas...), consumo exarce- bado de agrotóxicos, transgênicos (Organismos Geneticamente Modificados/ OGM), altos investimentos em nanotecnologia, biologia sintética, que ameaçam à agrobiodiversidade, à cultura e os hábitos e práticas alimentares (de produção e consumo), sem esquecer de mencionar a má distribuição dos alimentos que, por sua vez, implica um não acesso a estes, ou ainda, aspectos relacionados à dependência, à soberania e autonomia, ‘ajudas alimentares’, concentração cor- porativa, grandes deslocamentos, ‘super’ industrialização dos alimentos e qua- lidade nutricional destes, enfim, são inúmeras as abordagens, os pontos de vista e as áreas do conhecimento a partir das quais pode-se buscar desvelar as for- mas de organização e funcionamento deste sistema agroalimentar que, cada vez mais, se organiza e estrutura sob a perspectiva de uma visão mercantilizada do alimento, deixando de cumprir sua função primordial de garantir o Direito hu- mano à Alimentação Adequada (DhAA) e a promoção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN). Lançar luzes sobre este debate dentro da realidade da América Latina e Caribe é uma das principais finalidades deste livro, de forma a trazer outros pon- tos de vista além daqueles tecnicamente e ideologicamente construídos pelas instituições hegemônicas e a grande maioria dos Estados Nacionais que a elas, em geral, se submetem. Nesse sentido, o esforço editorial empreendido nesta publicação se voltou à tarefa de atender ao maior número de realidades possíveis do contexto latino-americano e caribenho, bem como buscar trazer nomes de referência dentro de cada temática proposta. Nesses termos, os conceitos, as ideias, críticas e propostas aqui apresenta- das visam trazer um pouco da complexidade em torno do debate da questão agroa- limentar, bem como dos diferentes pontos de vista que se estabelecem a partir de diferentes estudos e realidade vivenciadas pelo(a)s autore(a)s. O livro se propõe, então, a trazer em um primeiro momento, um debate das questões conceituais acerca do tema agroalimentar para, então, seguir com um conjunto de reflexões temáticas, a partir de diferentes realidades da América Latina e Caribe. O livro se estrutura em duas partes. A primeira, constituída por quatro ca- pítulos, pretende trazer reflexões teóricas daqueles que estamos considerando Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 22 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 23 como os “fios condutores” do debate proposto, apresentando os temas da Segu- rança Alimentar e Nutricional (SAN), Soberania Alimentar (SOBAL), do Direito humano à Alimentação Adequada (DhAA) e da Agroecologia. E, a segunda parte, aqui denominada “temática”, está composta por seis artigos que se articulam ao tema central do livro nas diferentes realidades dos diferentes paí ses d e América Latina e Caribe. No Capítulo I – A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO BRASIL: das concepções norteadoras ao início dos processos de consolidação – as autoras Silvia do Amaral Rigon e Cláudia Maria Bógus abordam a construção do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), tendo como referência a realidade brasileira, bem como a sua recente institucionalização no país. Colaboram de forma ímpar para o entendimento desteprocesso construtivo (e coletivo) no ce- nário brasileiro trazendo, no entanto, um diálogo com o contexto internacional. As autoras debatem sobre a importância das ideias e concepções na construção das políticas públicas progressistas, assim como sobre o peso das instituições como espaços de representação do Estado, na atuação governamental e na parti- cipação social, como é o caso dos Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricio- nal (CONSEAs), reativados no país a partir de 2003. Já no Capítulo II – Hacia una redefinición de la soberanía agraria. ¿Es po- sible la soberanía alimentaria sin cambio civilizatorio y bioseguridad? – o autor Jaime Breilh nos desafia a problematizar questões históricas do processo da de- terminação social, política e econômica, que até hoje repercute nas situações de vulnerabilidade social (e, por conseguinte, alimentar) das populações urbanas e rurais. Analisa de forma crítica – ainda que breve – como o continente latino-a- mericano se posicionou (e segue se posicionando) diante das demandas (velhas e novas) do sistema agroalimentar. No Capítulo III – Direito Humano à Alimentação e Nutrição Adequadas – Flávio Valente, Juan Carlos Morales González, Thais Franceschini e Valéria Bu- rity fazem uma (re)leitura do direito, quando este faz referência ao mais básico das necessidades humanas: a alimentação. Avançam, ao problematizar que não se trata apenas de uma questão alimentar e sim, que esta dimensão não deve/ pode ser vista (ou que tenha sua leitura no campo jurídico) “descolada” do as- pecto nutricional. Trazem ainda para o debate a perspectiva agregadora de ou- tros temas igualmente relevantes quando se trata de direitos humanos, como, por exemplo, a questão de gênero. O texto nos brinda com ricas reflexões acerca dos mecanismos que existem capazes de garantir a exigibilidade do direito hu- Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 23 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)24 mano à alimentação e nutrição adequadas e assim fortalecer a luta dos povos pela sua (re)produção social e cultural ante a iniquidade social vigente. O Capítulo IV – Agroecología y Soberanía Alimentaria en América Latina – de Miguel A. Altieri e Clara Ines Nicholls – encerra esta primeira parte do livro trazendo o tema da agroecologia como uma das respostas a uma situação latente de crise, que, por sua vez, põe em ‘xeque’ o atual modelo de produção de alimen- tos. Do mesmo modo, as reflexões promovidas no texto convergem para a valori- zação das práticas tradicionais camponesas de modo a interpretá-las e caracteri- zá-las como fundamentais para a garantia da segurança alimentar e nutricional. Iniciando a segunda parte do livro, no Capítulo V – Soberanía Alimenta- ria, Agroecología y Movimientos Sociales Rurales – María Elena Martínez Torres e Peter M. Rosset usam diferentes conceitos como o de soberania alimentar, ter- ritórios material e imaterial e recampesinização para problematizar e analisar, sob um olhar crítico, a ênfase dada pelos movimentos sociais rurais ao tema da agroecologia. Para tanto, lançam como exemplo o movimento intitulado “Cam- pesino a Campesino” ou “Camponês a camponês” (da Via Campesina) para demons- trar o quanto os movimentos sociais rurais vêm contribuindo para a formação e o fortalecimento do debate político em torno da agroecologia e soberania ali- mentar considerando, sobretudo, a sua potencialidade quando se trata de uma abordagem em rede. Já no Capítulo VI – Un ajuste de diferencias o sobre una dietética nativa Guaraní – a autora Rubia Carla Formighieri Giordani traz reflexões acerca da cultura alimentar dos ameríndios da etnia Guarani, na qual as permanências e as transformações impactam – às vezes de forma negativa, outras positivamente – os conhecimentos nativos sobre a estrutura culinária destes povos originários. Os regimes alimentares denominados autênticos descritos pela autora nos auxi- liam a compreender como e por que os aspectos identitários atrelados ao ato de produzir e comer são fortes e complexos. O capítulo nos convida a aprofundar nossos conhecimentos acerca do tema da Cultura Alimentar; tema este que para a América Latina e Caribe é algo vivo e, ao mesmo tempo, caro. No Capítulo VII – Novas tecnologias, corporações e seus impactos sobre a soberania alimentar – as autoras Maria José Guazzelli e Silvia Ribeiro analisam de forma crítica como os desconhecimentos do tema das novas tecnologias im- pactam a soberania alimentar dos países. Como exemplo tem-se a transgenia, intrangenia ou cisgenia, nanotecnologia e geoengenharia. As autoras traçam um mapeamento histórico sobre os discursos dos segmentos das grandes corpora- Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 24 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 25 ções do sistema agroalimentar – como, por exemplo, o insistente argumento de acabar com a fome no mundo – que não se efetivam, mas legitimam sua ação, apoiada por sua vez, pelas iniciativas dos Estados mediante a criação e imple- mentação de políticas públicas. Dando seguimento, o Capítulo VIII – Soberanía y Seguridad Alimentaria y Nutricional (SSAN): Una mirada a las acciones y políticas publicas en el Brasil y el México rural – de Islandia Bezerra e Tim Trench – apresenta e analisa como a so- berania alimentar e a segurança alimentar e nutricional vêm sendo pautadas nas agendas públicas dos dois países (Brasil e México). É importante ressaltar que, em momento algum, se observa o intento de se aplicar análises comparativas, tampouco evidenciar suas diferenças e (ou) similitudes. Contudo, o texto colabo- ra com uma breve apreciação sobre como estes países estão posicionados diante das demandas da sociedade para transformar situações de iniquidade social. O Capítulo IX - Soberanía Alimentaria en Cuba - da autora Mávis Dora Al- varez Licea traça um panorama geral – ainda que traga características de relatos oficiais sobre como este país se apresenta no cenário mundial quando o assunto versa sobre Soberania (não apenas alimentar) – o texto nos auxilia nesta com- preensão. A autora analisa, do ponto de vista sociopolítico, como Cuba vem ao longo dos anos engendrando ações – por exemplo, as sucessivas reformas agrá- rias - e traçando estratégias para, minimamente, garantir avanços sociais e me- lhores condições de vida para a população cubana. O Capítulo X - A promoção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutri- cional (SSAN) por meio do mercado institucional: a experiência brasileira – de Julian Perez-Cassarino, André Michelato, Rozane Triches e Silvio Porto – encerra o livro fazendo uma “costura” – nada invisível, já que nos demonstra de forma prática – como os temas SOBAL, SAN e DhAA são complementares (ou indissociá- veis). Os autores dão concretude aos conceitos quando trazem para o objeto de análise – a abertura dos mercados institucionais para as aquisições da agricultu- ra familiar – o quanto tais definições estão impregnadas na formulação de polí- ticas públicas, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Por fim, no Posfácio – Soberania Alimentar no continente das desigualda- des – Renato Maluf promove uma reflexão crítica sobre os conteúdos, análises e os pontos de vista apresentados nos artigos descritos, trazendo uma singular colaboração para o que foi aqui exposto, defendido e problematizado. O autor nos brinda com ricos elementos analíticos, obviamente não exauridos nesta Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 25 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)26 obra, acerca do nosso intrínseco e complexo ato de se alimentar. E, também, faz provocações. Merecedoras de análises que, certamente, intigará os leitores/as e também os autores/as que aqui colaboraram a, quem sabe, seguirem trilhando o caminho que tenha comotema central a Soberania Alimentar e a Segurança Alimentar e Nutricional e, dessa maneira, colaborar na construção do conheci- mento de forma crítica e emancipadora. Ressaltamos que, na condição de organizadores, nos foi permitido a gra- ta oportunidade de dialogar com pessoas de referência no campo da SOBAL e da SAN na América Latina e Caribe que, em todos os momentos, se mostraram dispostas e interessadas em contribuir com uma publicação que, dentro de seus limites, objetiva propor algumas referências para o debate acerca da produção, das formas de apropriação e das relações de poder e suas consequências ambien- tais, sociais, econômicas e culturais em torno do sistema agroalimentar, con- vergendo assim nas práticas de consumo alimentar, em particular na realidade latinoamericana. Acreditamos que as reflexões aqui postas, espraiadas pelo continente la- tino-americano e caribenho, congregando pontos de vista distintos, mas con- vergentes entre si, contribuem de forma definitiva para o fortalecimento e a ampliação do debate na sociedade, da pesquisa no campo agroalimentar e dos embates políticos em curso, em torno da promoção (ou não) da Soberania e Se- gurança Alimentar e Nutricional/SSAN, sob a óptica do Direito humano à Ali- mentação Adequada/DhAA. Assim, esperamos que esta leitura desperte em você o interesse e o desejo de envolver-se nesta importante temática e a necessidade de problematizar outras questões – novas e(ou) melhor formuladas – de forma a que os conceitos e as realidades aqui apresentados façam cada vez mais parte do cotidiano dos cidadãos e cidadãs do nosso continente e do mundo. Nossas cordiais saudações latino-americanas e caribenhas. Islandia Bezerra Julian Perez-Cassarino Organizadores Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 26 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 27 LATINOAMÉRICA Calle 13 Soy... Soy lo que dejaron Soy toda la sobra de lo que se robaron Un pueblo escondido en la cima Mi piel es de cuero, por eso aguanta cualquier clima Soy una fábrica de humo Mano de obra campesina para tu consumo Frente de frío en el medio del verano El amor en los tiempos del cólera, mi hermano! Soy el sol que nace y el día que muere Con los mejores atardeceres Soy el desarrollo en carne viva Un discurso político sin saliva Las caras más bonitas que he conocido Soy la fotografía de un desaparecido La sangre dentro de tus venas Soy un pedazo de tierra que vale la pena Una canasta con frijoles, soy Maradona contra Inglaterra Anotándote dos goles Soy lo que sostiene mi bandera La espina dorsal del planeta, es mi cordillera Soy lo que me enseñó mi padre El que no quiere a su patría, no quiere a su madre Soy América Latina, un pueblo sin piernas, pero que camina Tú no puedes comprar el viento Tú no puedes comprar el sol Tú no puedes comprar la lluvia Tú no puedes comprar el calor Tú no puedes comprar las nubes Tú no puedes comprar los colores Tú no puedes comprar mi alegría Tú no puedes comprar mis dolores Tengo los lagos, tengo los ríos Tengo mis dientes pa’ cuando me sonrio La nieve que maquilla mis montañas Tengo el sol que me seca y la lluvia que me baña Un desierto embriagado con peyote Un trago de pulque para cantar con los coyotes AMÉRICA LATINA Calle 13 Sou... sou o que eu deixei Sou aquilo que restou do que roubaram Um povo escondido no topo Minha pele é de couro, por isso aguenta qualquer tempo Sou uma fábrica de fumo Mão de obra camponesa, para o seu consumo Frente fria no meio de verão O Amor nos Tempos de Cólera, meu irmão! Sou o sol que nasce e o dia que morre Com os melhores entardeceres Sou o desenvolvimento em carne viva Um discurso político sem saliva As mais belas faces que conheci Sou a fotografia de um desaparecido O sangue em suas veias Sou um pedaço de terra que vale a pena Uma cesta com feijão, eu sou Maradona contra a Inglaterra Golpeando-o com dois gols Sou o que sustenta minha bandeira A espinha dorsal do planeta é a minha cordilheira Sou o que me ensinou meu pai O que não quer sua pátria, não quer a sua mãe Sou América Latina, um povo sem pernas, mas que caminha Você não pode comprar o vento Você não pode comprar o sol Você não pode comprar chuva Você não pode comprar o calor Você não pode comprar as nuvens Você não pode comprar as cores Você não pode comprar minha alegria Você não pode comprar as minhas dores Tenho os lagos, tenho os rios Eu tenho os meus dentes pra quando eu sorrio A neve que maquia minhas montanhas tenho o sol que me seca e a chuva que me banha Um deserto embriagado com cactos Uma bebida de pulque para cantar com os coiotes Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 27 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)28 Todo lo que necesito, tengo a mis pulmones respirando azul clarito La altura que sofoca, Soy las muelas de mi boca, mascando coca El otoño con sus hojas desmayadas Los versos escritos bajo la noches estrellada Una viña repleta de uvas Un cañaveral bajo el sol en Cuba Soy el mar Caribe que vigila las casitas Haciendo rituales de agua bendita El viento que peina mi cabellos Soy, todos los santos que cuelgan de mi cuello El jugo de mi lucha no es artificial Porque el abono de mi tierra es natural Trabajo bruto, pero con orgullo Aquí se comparte, lo mío es tuyo Este pueblo no se ahoga con marullo Y se derrumba yo lo reconstruyo Tampoco pestañeo cuando te miro Para que te recuerde de mi apellido La Operación Condor invadiendo mi nido Perdono pero nunca olvido Vamos caminando Aquí se respira lucha Vamos caminando Yo canto porque se escucha Vamos dibujando el camino (Vozes de um só coração) Vamos caminando Aquí estamos de pie Que viva la América! No puedes comprar mi vida... Tudo que eu preciso, eu tenho meus pulmões respirando azul claro A altura que sufoca, Sou os dentes na minha boca, mascando coca O outono com suas folhas caídas Os versos escritos sob as noites estreladas Uma vinha repleta de uvas Um canavial sob o sol em Cuba Eu sou o mar do Caribe, que vigia as casinhas Fazendo rituais de água benta O vento que penteia meus cabelos Sou, todos os santos pendurados em meu pescoço O suco da minha luta não é artificial Porque o abono de minha terra é natural Trabalho árduo, porém com orgulho Aqui se divide, o que é meu é seu Este povo não se afoga com as marés E se derruba, eu reconstruo Tampouco pisco quando eu te vejo Para que lembrem do meu sobrenome A Operação Condor invadindo meu ninho Perdoo porém nunca esqueço Vamos caminhando Aqui se respira luta Vamos caminhando Eu canto porque se ouve Vamos desenhando o caminhando (Vozes de um só coração) Vamos caminhando Aqui estamos de pé Que viva a América! Não podes comprar minha vida... Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 28 27/10/2015 16:04:10 Rchel Sticky Note no lugar de caminhando, não seria caminho PaRte i Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 29 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 30 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 31 A SeguRança aLimentaR e nutRiCionaL no BRaSiL: daS ConCePçõeS noRteadoRaS ao iníCio doS PRoCeSSoS de ConSoLidação1 Silvia do Amaral Rigon Cláudia Maria Bógus O presente capítulo tem como objetivo discutir a construção do conceito de Se- gurança Alimentar e Nutricional (SAN) de referência no Brasil e a sua recente institucionalização, considerando o contexto internacional vigente no decorrer desse processo. há que se ressaltar que não há a intenção de exaurir aqui esse debate, mas sim, trazer alguns elementos que possam auxiliar na compreensão da trajetória percorrida. Pretende-se com a discussão em tela considerar a im- portância das ideias e concepções, na construção das políticas públicas progres- sistas, assim como o peso fundamental que as instituições adquirem no processo como espaços de representação do Estado, na atuação governamentale de parti- cipação social, como é o caso dos Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricio- nal (CONSEAs), reativados no país a partir de 2003. O ser humano conta com uma configuração biopsicossocial que lhe per- mite existir no mundo natural e no mundo social simultaneamente e ressig- nificar-se a partir dessas interações. A relação entre natureza e cultura e seus desdobramentos e repercussões sobre a vida dos seres humanos em sociedade e sobre a vida no planeta têm sido objeto de estudo permanente de diferen- tes ciências. A partir dessa perspectiva, a alimentação pode ser compreendida como uma das formas mais expressivas desse tipo de mediação, pois o padrão alimentar de uma sociedade revela como essa relação foi construída ao longo 1 Este texto se constitui de partes de capítulos da Tese de Doutorado “A construção de políticas públicas promotoras de saúde: um estudo de caso sobre a Política de Segurança Alimentar e Nutricional do Paraná”, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Fa- culdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e defendida no ano de 2012. Agradecimentos especiais à Profa. Suely T. Schmidt pelas sugestões e colaboração na revisão do texto. Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 31 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)32 do tempo, com base na constante e prolongada interação dos seres humanos e de seus ancestrais com o território onde vivem. O estudo da produção social no tempo, num dado espaço, a história e a geografia da alimentação humana, con- tribuem para esse entendimento. Também o conhecimento sobre as formas de subsistências das diferentes sociedades em seus primórdios, com base na coleta, caça e pesca e, posteriormente na agricultura, criação de animais e com o desenvolvimento do comércio possibilita uma compreensão sobre processo de formação da economia local e regional. há nessa dinâmica também a inci- dência das externalidades, que interferiram historicamente sobre cada agroe- cossistema alimentar produzindo diferentes transformações, considerando os sucessivos períodos da história, as relações intercontinentais, o mercantilismo e a mundialização, mais atualmente, denominada globalização da economia (CLAVAL, 1999). Tão importante quanto esses diferentes tipos de leitura sobre a realidade multifacetada dos sistemas alimentares são as reflexões que advêm dos diferentes significados atribuídos ao alimento e ao ato da alimentação, para com os quais os seres humanos mantêm dependência física e psicossocial, constituindo-se por isso em um direito fundamental e essencial à vida (POIRIER, 2000). Diferente de seres de outros reinos da natureza, o ser humano necessita incorporar substâncias externas, que provêm da natureza, e transformá-las em energia e nutrientes para garantir a manutenção das suas funções vitais internas e a sua capacidade de trabalho e de estabelecimento de outros tipos de relações necessárias à reprodução e ao desenvolvimento integral da vida humana. A obtenção de um adequado estado de saúde, compreendendo a saú- de na sua perspectiva mais ampla e como um meio para a qualidade de vida, depende, em grande parte, de como esse processo se efetiva no nível indivi- dual e coletivo (WESTPhAL, 2007). Quando a alimentação proporciona de fato o atendimento de todas as necessidades do organismo humano, entendendo-o como uma unidade complexa na qual interagem as dimensões física, psicoló- gica, ambiental, social e espiritual da existência humana, uma das principais chaves para a manutenção da saúde, a nutrição, passa a ser atingida. Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 32 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 33 o SuRgimento daS PoLítiCaS de SeguRança aLimentaR e nutRiCionaL (San) na áRea de aLimentação e nutRição: dinâmiCa de modifiCação de ConCeitoS Na América Latina, os estudos desenvolvidos no início da primeira metade do século XX, pela escola de Pedro Escudero, na Argentina, e por Josué de Castro, no Brasil, passam a demonstrar a importância da nutrição para a saúde (CASTRO, 2001). À medida que os processos investigativos avançam das décadas seguintes até os dias atuais, é maior o conjunto de informações que ressaltam a existência dessa relação para a obtenção e a manutenção da saúde humana (WhO, 2012). No entanto, apesar da comprovação da relação de interdependência exis- tente entre alimentação, nutrição e saúde, que por si só justificaria a priorização do tema na agenda política dos governos, complexos mecanismos interferem no pro- cesso da alimentação e da nutrição dos indivíduos e dos diferentes grupamentos sociais. Assim como o estado de saúde, o binômio alimentação - nutrição encon- tra-se mais fortemente influenciado por processos de ordem social, econômi- ca, política, cultural e ambiental do que por determinantes de caráter biológico (VALENTE, 2002). Segundo a FAO, a quantidade de alimentos produzida mundialmente é suficiente para garantir as necessidades diárias de energia e nutrientes para toda a população mundial. No entanto, o Relatório Mundial sobre a Fome, da Organização das Nações Unidas – FAO (2012), apresenta estimativas de morte de uma pessoa a cada 3,5 segundos, em função da falta de acesso à comida, causada, sobretudo, pela pobreza. Por outro lado, tem sido verificado o aumento do con- sumo de alimentos excessivamente calóricos e de baixa qualidade nutricional, por grandes contingentes populacionais. As estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) registram que mais de um (1) bilhão de adultos no mundo apresenta sobrepeso e 300 milhões apresentam algum grau de obesidade. É importante men- cionar que a obesidade é também um estado considerado de má nutrição, que gera graves problemas de saúde afetando e restringindo a qualidade e a expec- tativa de vida das mais diferentes populações (WhO, 2012). Essa dupla carga de problemas revela a existência de um complexo quadro de insegurança alimentar e nutricional em nível mundial. No Brasil, a determinação social e a repercussão biológica da violação do direito humano à alimentação adequada passam a ser evidenciadas pelos estu- dos de Josué de Castro sobre a fome e suas manifestações no perfil nutricional Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 33 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)34 dos indivíduos e das coletividades. Em seu livro Geografia da Fome, publicado em 1946, o autor estabelece as relações causais entre os aspectos sociais e bioló- gicos, procurando explicar a presença das doenças carenciais e da desnutrição, baseando-se nas condições de vida de distintos grupos sociais, nas diferentes regiões do país (CASTRO, 2001). Os estudos de Castro tiveram como objeto não só a situação brasileira, como também a realidade latino-americana, assim como abordaram a situação das demais nações que se apresentavam nesse mesmo con- texto, em nível mundial. Tal discussão encontra-se bastante aprofundada em seu livro, Geopolítica da Fome, publicado em 1951 e considerado uma extensão do Geografia da Fome. A publicação das obras de Josué de Castro encontra-se sintonizada com o momento do cenário internacional, caracterizado pelo período do pós-guerra, no qual a geopolítica mundial encontrava-se num processo de reconfiguração de forças. Os países da América do Norte apresentavam-se, nesse momento, fortale- cidos econômica e politicamente, a Europa vivenciava o seu processo de recons- trução e os países do leste europeu, mediante a liderança da Rússia, organizavam- se no bloco socialista. Nesse momento da história mundial, o tema da Segurança Alimentar adquire um destaque na agenda internacional, sobretudo em função das experiências de privação de alimentos e de embargos, vivenciadas durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. O tema da segurança alimentar surge nesse contexto e é associado às questõesrelativas à segurança nacional, assunto que adquiriu uma visão estratégica nos projetos de desenvolvimento nacional de determinados países (LANG, BARLING, CARAhER, 2009; MALUF, 2011). Em 1945, ocorre a criação das Nações Unidas, com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais e econômicas entre as diferentes regiões do mundo, contan- do com a adesão de 51 países. No mesmo ano é criada FAO. Em 1948, a Declara- ção Universal dos Direitos humanos das Nações Unidas é assinada por todos os países-membros, considerando a alimentação como um dos direitos humanos básicos e fundamentais (VALENTE, 2002). Com a definição do bloco dos países capitalistas e o bloco dos países so- cialistas, intensifica-se o debate internacional sobre as causas da pobreza no mundo e a fome passa a ser identificada como um de seus principais aspectos determinantes. Nesse enfoque, ao contrário de ser uma consequência, a fome é utilizada para explicar a pobreza e a sua existência é atribuída ao problema da produção insuficiente de alimentos, ocorrendo, sobretudo, nos “países do ter- ceiro mundo”. Com base nessa perspectiva, os governos envolvidos, órgãos inter- Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 34 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 35 nacionais como a FAO, assim como empresas detentoras de tecnologias do setor agropecuário, procuraram justificar a introdução de um processo de modernização da agricultura em vários dos países do hemisfério Sul, nas décadas de 1950, 1960 e 1970. Tal processo, que recebeu a denominação de Revolução Verde, virá pos- teriormente a se consolidar num campo extremamente lucrativo para as multi- nacionais detentoras dos insumos utilizados (GALBRAITh, 1997; LANG, BARLING, CARAhER, 2009). No entanto, apesar do aumento relativo da produção dos alimentos, asso- ciada à industrialização da agricultura, a década de 1970 registrou uma redução no estoque de alimentos de alguns países importantes e, apesar de a quantidade produzida suplantar a necessidade dos habitantes do planeta, os números das víti- mas da fome e da desnutrição persistiram e em algumas regiões aumentaram. O êxodo rural intensificou-se nesse período, resultado da mecanização das práti- cas agrícolas e do desemprego e pobreza gerados pelo avanço da Revolução Ver- de no campo (GREEN, 2009). Nesse contexto, ocorre a Conferência Mundial de Ali- mentação, organizada pela FAO, em Roma, no ano de 1974. Em função da situação verificada, a segurança alimentar adquire importância destacada na agenda dos países, mas com o foco ainda na garantia de uma produção intensiva de alimentos, com a manutenção de estoques de gêneros alimentícios, que pudessem ser uti- lizados em situações de emergência. Como um desdobramento dessas discussões, em 1976, ocorre a instituição do Comitê de Segurança Alimentar Mundial vinculado à FAO, que tinha como um de seus principais objetivos a organização de um siste- ma internacional de ajuda alimentar (MALUF, 2011). A persistência dos quadros de desnutrição mundial faz com que, na dé- cada de 1980, se amplie o debate sobre o processo de determinação e persistência da insegurança alimentar mundial, discussão que ocorre também no Brasil. As sequelas da modernização conservadora da agricultura já vinham sendo regis- tradas, especialmente, pelo êxodo rural. Tais constatações vinculam a discussão sobre segurança alimentar ao acesso aos alimentos e para boa parte da popula- ção que migra do meio rural para a periferia das cidades, esse acesso depende da renda monetária. A baixa escolaridade e a falta de qualificação profissional restringem as oportunidades de obtenção de renda, condenando muitas famílias ao trabalho informal, ao subemprego ou à mendicância. As condições de alimen- tação e nutrição das famílias são afetadas por esses processos. Somados a essa situação de precarização das condições de vida outros aspectos presentes nas áreas periféricas ocupadas e sem infraestrutura interferem na saúde e na situa- Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 35 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)36 ção nutricional dos grupos mais vulneráveis: falta de água potável, de luz elétri- ca e de tratamento dos dejetos, moradias precárias, acessibilidade deficiente aos serviços de saúde e de educação (VALLA, STOTZ, ALGEBAILE, 2005). Diante dessas reflexões e das evidências que se verificam nas distintas regiões em todo o mundo, a FAO incorpora, em seus posicionamentos sobre a de- terminação da insegurança alimentar, a questão da falta de acesso aos alimentos, relacionando-a à existência da baixa renda e da pobreza. Apesar de, em suas orientações para os países da América Latina, serem ressaltadas as ações volta- das para a pequena e média agricultura familiar, não ocorre a necessária revisão de suas posições relativas à priorização da produção tecnificada de alimentos em grande escala e de forma intensiva (PINhEIRO, 2009; MALUF, 2011). A incorporação da questão do acesso aos alimentos na discussão inter- nacional sobre a segurança alimentar traz a perspectiva da determinação social do problema da insegurança alimentar, e como resultado da Reunião do Comi- tê de Segurança Alimentar Mundial, em 1982, afirma-se uma posição oficial em favor de que as pessoas “tenham acesso físico e econômico aos alimentos bá- sicos que necessitam” (MALUF, 2011, p.61). No final da década de 1980, há um reconhecimento de que a insegurança alimentar está relacionada à questão da concentração de terras, à modernização agrícola, à falta de renda e de empregos, às condições precárias de vida e, também, às questões ambientais. A questão da ne- cessidade da adequação nutricional também é discutida (MALUF, 2011). No en- tanto, apesar dos avanços na comprensão do conceito no período referido, não foi registrada a priorização necessária da temática nas agendas governamentais. A segurança alimentar somente retornará a ter expressiva ênfase no cená- rio internacional por ocasião da Reunião da Cúpula Mundial da Alimentação, em 1996. A reunião realiza um balanço dos avanços obtidos e dos desafios existentes, debate o conceito ampliado de segurança alimentar e confere destaque ao tema do direito humano à alimentação e da sustentabilidade social, econômica e am- biental da construção da segurança alimentar. Como resultado da reunião, têm- se a Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial e a aprovação de um Plano de Ação a ser implementado a partir de então. Simultaneamente ao evento, é organizado pela sociedade civil um fórum de debates sobre o tema, ocasião em que a delegação brasileira apresentou a concepção sobre segurança alimentar construída no Brasil, defendendo a utilização da expressão “segurança alimentar e nutricional”, por ser mais ampla e explicitar a necessidade de ser garantido o acesso a uma alimentação de qualidade, em quantidade suficiente, Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 36 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 37 de modo permanente e para todos. O uso do termo “nutricional” explicita uma atenção com as questões de promoção da saúde que precisam estar inseridas na discussão da segurança alimentar. Apesar dos aspectos levantados e da sua importância política, os desdobramentos concretos desse grande encontro não atingiram as expectativas, em função do respaldo político insuficiente às propostas aprovadas (MALUF, MENEZES, VALENTE, 1996; PINhEIRO, 2009). Na década de 1990, verificou-se a convivência de paradoxos em relação às orientações da FAO sobre as formas de construção da segurança alimentar. Se, por um lado, houve a incorporação de elementos de importância ao conceito de referência, questões problemáticas emergiram. O avanço do processo neoli- beral, a definição de estratégias para a consolidação da globalização da economia, como a quedadas barreiras alfandegárias e a abertura dos países ao mercado in- ternacional, constituíram-se num conjunto de medidas definidas pelos órgãos internacionais integrantes do Consenso de Washington, que incidiram direta- mente na desestruturação dos sistemas produtivos nacionais, sobretudo em países do Hemisfério Sul. Tal processo foi referendado pela FAO, que, influenciada por esses mesmos referenciais neoliberais, defendia a ideia de um sistema alimentar global, que contaria com países produtores de alimentos e países consumidores, sen- do o mercado internacional o agente responsável por suprir as diferentes neces- sidades alimentares (MALUF, MENEZES, VALENTE, 1996; MALUF, 2011). A década de 2000 inicia-se com os mesmos desafios do período anterior intensificados pelos efeitos dos programas de ajuste estrutural impostos aos países de mais baixa renda pelo Banco Mundial. Os movimentos sociais do campo, sobre- tudo os da América Latina, se contrapõem à proposta da FAO no sentido de a segu- rança alimentar poder ser viabilizada pelo comércio internacional de alimentos, e apresentam um conceito de soberania alimentar, que defende o direito de cada povo definir suas estratégias para garantir a segurança alimentar e nutricio- nal de sua população, destacando a importância da garantia do acesso à terra, à água, às sementes nativas como essencial para obtenção desse objetivo e da valorização e respeito à cultura alimentar de cada povo (MALUF, 2011). Torna-se importante resgatar que, em função das poucas mudanças posi- tivas que ocorrem no quadro de insegurança alimentar, a FAO realiza em 2000, a Reunião do Comitê de Segurança Alimentar Mundial para discutir a implementa- ção do Plano de Ação, aprovado pela Reunião da Cúpula Mundial da Alimentação em 1996. Parte do conteúdo do Plano é inserida nas Metas de Desenvolvimento do Milênio, tendo destaque a redução pela metade do número de pessoas ex- Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 37 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)38 postas à fome, até o ano de 2015. Em 2003, efetiva-se a criação de uma Aliança Internacional contra a Fome, com o objetivo de garantir o apoio necessário ao se- guimento do Plano de Ação (PINhEIRO, 2009; MALUF, 2011). Ainda nessa mesma década ocorre, como fator complicador de todos os processos anteriormente descritos, a crise mundial de alimentos, que tem sua fase mais crítica no período entre 2006 e 2008. Os alimentos têm importante ele- vação dos preços sendo que diversas questões concorrem para isso. Verifica-se queda nos estoques, que apresentam os valores mais baixos dos últimos 20 anos. A migração dos fundos de ações para o mercado de commodities, com a compra de alimentos antecipada em até três safras, assim como a utilização de milho para a fabricação de agrocombustíveis, como o etanol, sobretudo nos Estados Unidos, são aspectos indicados como desencadeantes da crise. O processo repercute em todo o mundo, com destaque para os países com a maior parte da população vivendo com U$ 2,00 por dia, o que representa 2,5 bilhões de indivíduos que comprometem 40% de seus recursos na alimentação. Desse modo, o contingente de pessoas vivendo em insegurança alimentar, passou de 840 para 950 milhões (McMIChAEL, 2009; FAO, 2012). A crise teve desdobramentos negativos, sobretudo nos países que passa- ram a depender do mercado internacional para garantir a segurança alimentar de sua população. Tal situação ressaltou a gravidade do quadro de insegurança ali- mentar na América Latina, que, nesse período, em função da desestruturação da pequena e média produção de alimentos, causada pelos impactos da globaliza- ção e da liberalização dos mercados, apresenta uma diferença entre a oferta e a demanda de alimentos três vezes maior do que na Ásia ou nos países da África (McMIChAEL, 2009; WITTMAN, DESMARAIS, WIEBE, 2010). A existência da crise de alimentos a partir de 2006 revela uma questão es- trutural, uma crise do modelo de produção e consumo de alimentos, que se fun- damenta na sua mercadorização. A protelação do enfrentamento de problemas crônicos como a não realização da reforma agrária, a ausência de apoio gover- namental para a agricultura familiar e camponesa, a crise ambiental manifesta- da no aquecimento global, as dinâmicas do sistema agroalimentar mundial foca- das na acumulação do capital e com circulação de alimentos de baixa qualidade, contribuíram para esse processo, gerando repercussões sociais, ambientais e na saúde pública, que demonstraram a sua insustentabilidade. Tal situação foi agra- vada pelas políticas internacionais geridas pelos organismos financeiros, que levaram muitos governos a se desobrigarem de suas responsabilidades para com Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 38 27/10/2015 16:04:10 Soberania alimentar (Sobal) e Segurança alimentar e nutricional (San) na américa latina e caribe 39 as políticas de segurança alimentar e nutricional (GREEN, 2009; WITTMAN, DESMA- RAIS, WIEBE, 2010; MALUF, 2011). mudançaS na agenda PoLítiCa do bRaSiL: daS PoLítiCaS de aLimenta- ção e nutRição à PoLítiCa naCionaL de San No Brasil, a história da alimentação encontra-se marcada, desde o pe- ríodo colonial, pela carestia de alimentos, relacionada à presença do latifúndio agroexportador, à pobreza e à falta de políticas públicas comprometidas com a segurança alimentar e nutricional de sua população (CASTRO, 2001). No entanto, apesar da sua existência, o enfrentamento do problema da fome no país não foi priorizado pelos seus diferentes governantes, permanecendo, por longo período, numa situação de invisibilidade. há registro apenas de ações emergenciais de combate às epidemias de fome por diferentes historiadores. So- mente no início do século XX é que se verificam algumas ações de caráter insti- tucional com foco na questão alimentar, como resposta às diferentes greves, em função dos baixos salários e do desemprego (COUTINhO, 1988). Na década de 1930, sob a influência do movimento da medicina social, um grupo de médicos inicia uma discussão sobre o problema da fome e suas reper- cussões sobre a saúde da população brasileira. No grupo encontra-se Josué de Cas- tro que, conforme já referido, contribui no estudo do desvelamento dos processos sociais que determinam a situação de nutrição e saúde da população brasileira. O problema da fome, até então considerado um tabu na sociedade brasileira, é denunciado pelo médico pernambucano (CASTRO, 2001). A partir desse proces- so, o tema esteve presente no cenário das políticas públicas brasileiras nos anos de 1940, 1950 e 1960. Programas e ações de caráter assistencial foram realizados em diferentes áreas: alimentação do trabalhador, nutrição materno-infantil, ali- mentação escolar. No entanto, medidas estruturantes que combatessem as causas dos graves problemas sociais que determinavam a privação do acesso ao alimento foram sistematicamente postergadas (VASCONCELOS, 2005). Os anos de 1970 foram marcados pela institucionalização de diferentes órgãos de assessoramento ao governo brasileiro nessa área. Em 1972 ocorre a cria- ção do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), que teve como prin- cipal objetivo assistir o governo na formulação da política nacional de alimen- tação e nutrição, atuando na coordenação e no apoio para sua implementação. A Soberania alimentar e Segurança alimentar.indd 39 27/10/2015 16:04:10 IslandIa Bezerra JulIan Perez-CassarIno (orgs.)40 aprovação do decreto que institucionalizou o Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (I PRONAN), em 1976, tornou-se um marco de um novo momento his- tórico relativo ao entendimento do problema alimentar e nutricional brasileiro (ARRUDA & ARRUDA, 2011). A proposta do PRONAN foi concebida como um dos marcos do II Plano Na- cional de Desenvolvimento Econômico e Social, tendo uma concepção mais glo- balista e intersetorial em relação aos programas anteriores, que apresentavam uma visão
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